Voltar

Linha de Tempo

1885

A 13 de Setembro, na aldeia do Carregal, concelho de Sernancelhe, nasce Aquilino Ribeiro, filho de Mariana do Rosário Gomes e de Joaquim Francisco Ribeiro. A vivência do Carregal será transposta para o romance “Cinco Réis de Gente” (1948), numa efabulação que premeia romanescamente as aventuras da sua meninice e da “ternura comovente das suas relações de família” (Óscar Lopes, 1999).

1895

A família muda-se para a aldeia da Soutosa, no concelho de Moimenta da Beira. Em julho desse ano entra no Colégio da Lapa, onde faz o exame de instrução primária. O internato eclesiástico da Senhora da Lapa é motivo de inspiração para um dos seus mais belos romances confessadamente autobiográfico: “Uma Luz ao Longe” (1948).

1900

Prossegue os estudos no Colégio Roseira, em Lamego.

1902

Em Julho segue para a cidade de Viseu, onde permanece pouco tempo. A esta cidade consagra algumas das coordenadas dos seus livros “Andam Faunos Pelos Bosques” (1926) e “O Homem que Matou o Diabo” (1930).

Em 16 de Outubro deste ano muda-se para o Seminário de Beja, com o propósito de frequentar o curso teológico. Faz o primeiro ano de teologia e parte do segundo.

1904

Depois de uma curta passagem por Lisboa regressa à aldeia da Soutosa. Permanece em casa dos seus pais durante mais de um ano, onde absorve a sua condição de serrano: “Esse sentimento [de liberdade], concluí eu mergulhando no poço escuro interior, era porventura o que acima de tudo me prendia na serra” (Aquilino Ribeiro, “Um escritor confessa-se”, 1974).

1905

Retorna à cidade de Lisboa, onde se embrenha nos movimentos radicais de insurgência republicana. Começa por residir na Rua do Crucifixo, depois na Rua das Pedras Negras e, mais tarde, na Rua do Carrião. Este escrutínio residencial sublinha a progressiva intensidade que ressoava no clima revolucionário de Lisboa e que se encontra tão bem cartografado nas paisagens literárias de “Lápides Partidas” (1945) e no seu livro de memórias “Um Escritor Confessa-se” (1974).

1907

É o tempo dos seus primeiros artigos para a “Vanguarda”, de Sebastião Magalhães Lima. Mas também das traduções de “Il Santo”, de Fogazzaro, e de “A Anarquia”, de Jean Graves, a meias com o carbonário, Raul Pires. E ainda de A Filha do Jardineiro, um folhetim escrito em parceria com José ferreira da silva.

Associa-se a um “grupo libertário” que pretendia exercer ação direta, mediante a fabricação de explosivos. O “episódio da Rua do Carrião”, com uma explosão no seu quarto, é o desenlace deste período tumultuoso. É preso na Esquadra do Caminho Novo.

1908

Em 12 de Janeiro, evade-se do Caminho Novo. Refugia-se na Rua Nova da Almada, com a ajuda de Alfredo Costa, um dos futuros regicidas, até exilar-se na cidade de Paris, no dia 3 de Junho. É acolhido pelo pintor Manuel Jardim, com quem residirá nos primeiros anos. Permanece na Cidade-Luz seis anos, com interregnos em Portugal e na Alemanha.

1910

Depois de alguns meses em Montmartre o seu ritmo acerca-se do Pantheón, onde vive alguns anos na Rue Descartes. Colabora com a imprensa portuguesa, frequenta com amor os cursos magistrais da Sorbonne, abanca pelos Cafés do Boulevard St. Michele e anda por antiquários e museus em encantada romaria. Estreita amizade com jovens artistas plásticos portugueses e mais tarde com o caricaturista Leal da Câmara. Conhece a sua primeira mulher, a alemã Grete Tiedemann.

1913

Reside alguns meses na Alemanha, onde casa a 28 de Fevereiro. Regressa a Paris, residindo na Rue Hallé, entre Maio e Agosto de 1913. A rogo de Grete instalam-se, mais tarde, a escassas centenas de metros, na Rue Dareau, num edifício ao estilo hausmanniano, mais adequado ao perfil burguês da alemã. Escreve e publica o livro de contos “Jardim das Tormentas”, com prefácio de Carlos Malheiro Dias.

1914

A 26 de Fevereiro, nasce o seu primeiro filho, Anibal Aquilino Fritz Tiedemann Ribeiro.

Regressa a Portugal com o eclodir da Primeira Guerra Mundial: “Uma bela manhã despedimos pela Gare de Austerlitz num comboio recoveiro, eu com um filho nos braços. De pé até Bordéus. Chorava Paris, o Paris da minha mocidade, onde só devia voltar depois da guerra. Nunca desejei nada em Paris que não realizasse” (Aquilino Ribeiro, “Lances da Minha Vida”).

1915

Vive com a família no Campo Grande, na altura, um arrabalde de Lisboa, onde escreve o romance “A Via Sinuosa” (1918). Torna-se professor, durante três anos, da Secção de Letras do Liceu Central de Camões. A novela “Domingo de Lázaro”, inserta na edição ne varietur da “Estrada de Santiago” (1956), recupera algumas cartografias biográficas desta época.

1919

A convite de Raul Proença entra para a Biblioteca Nacional de Lisboa, como segundo bibliotecário. Faz parte do grupo que lança, em 1921, a “Seara Nova”, a revista de doutrina e crítica que emerge num período de oposição sistemática “aos males da República” e de “denúncia do perigo fascista” (António Reis, 1996).

1924

Ano da publicação do “Romance da Raposa”, dedicado ao seu filho Aníbal, e que terá em edição posterior ilustrações de Benjamin Rabier.

1927

Vive em Santo Amaro de Oeiras. Participa na revolta contra a Ditadura Militar, que eclodiu no Porto a 3 e em Lisboa a 7 de Fevereiro, e foge à perseguição policial exilando-se novamente em Paris. O estado de saúde de Grete agrava-se e Aquilino regressa clandestinamente a Portugal. A 19 de Setembro de 1927, morre a sua primeira mulher.

1928

Envolve-se no frustrado movimento de Pinhel e é preso em Contenças, Mangualde, juntamente com António Mota. Evadem-se do presídio militar do Fontelo, em Viseu, no dia 15 de Agosto, “em condições rocambolescas, tendo uma grafonola a tocar, enquanto serravam as grades de ferro, e continuando a tocar, enquanto saltavam os muros da prisão” (Manuel Mendes, 1960). Refugia-se novamente em Paris, encetando o seu terceiro exílio.

1929

Reside no Hotel du Midi, na Avenue du Parc de Montsouris. Relaciona-se com inúmeros membros da Liga de Defesa da República ou Liga de Paris. Redige um conjunto de crónicas para a “Ilustração Portuguesa”, e termina o romance “O Homem que Matou o Diabo”, que será editado em 1930.
Casa em 27 de Junho, com Jerónima Dantas Machado, filha de Bernardino Machado, também exilado. Seguem para o Sul de França, Ustaritz, e depois Bayonne, onde nasce, no ano seguinte, o seu segundo filho, Aquilino Ribeiro Machado.

1932

Regressa clandestinamente a Portugal, instalando-se em Abraveses, nos arredores de Viseu. No final do ano é amnistiado e passa a viver na Cruz Quebrada, na Quinta de Santa Catarina, um arrabalde de Lisboa, meio adormecido, junto à ribeira do Jamor. Publica “As Três Mulheres de Sansão”, que receberá, no ano seguinte, o prémio Ricardo Malheiros, e o romance “Batalha Sem Fim”, livro que a seu ver “forneceria razoável urdidura cinemática”. Neste isolamento meio campestre escreve muitos dos seus livros.

1935

É eleito sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa. Publica o livro de contos “Quando ao Gavião Cai a Pena” e “Arca de Noé da III Classe”, com ilustrações de Matos Chaves, e que dedica ao seu filho Aquilino.

1940

Publica “O Servo de Deus e a Casa Roubada” e traduz o livro de António Gouveia, “Em Prol de Aristóteles”, com prefácio de sua autoria. Sai do prelo, “Oeiras”, uma monografia sobre a vila onde residiu alguns anos. Morte de sua mãe, Mariana do Rosário, em Soutosa, com 92 anos.

1949

Publica “O Servo de Deus e a Casa Roubada” e traduz o livro de António Gouveia, “Em Prol de Aristóteles”, com prefácio de sua autoria. Sai do prelo, “Oeiras”, uma monografia sobre a vila onde residiu alguns anos. Morte de sua mãe, Mariana do Rosário, em Soutosa, com 92 anos.

1952

Entre Março e Julho, realiza uma viagem ao Brasil, onde é saudado como lídimo representante das letras democráticas e independentes portuguesas. Recebe as insígnias de comendador da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.
Em Agosto, passa residir no Bairro de São Miguel, Alvalade, intercala com longas temporadas de Verão na aldeia da Soutosa e em Romarigães, quando decide reconstruir o Solar de D. Telmo. Mas também é o tempo dos cenáculos regulares, na Bertrand, na Brasileira e no grupo do consultório do Professor Pulido Valente.

1957

Publica “A Casa Grande de Romarigães”, “um dos três ou quatro romances maiores romances da literatura de língua portuguesa” (José Cardoso Pires, 1985), e ainda a tradução e estudo de “D. Quixote de la Mancha”, de Cervantes.

A Livraria Bertrand inicia a publicação das Obras Completas de Aquilino Ribeiro.

1958

É eleito sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa. Participa ativamente na campanha de Humberto Delgado à Presidência da República.

Publica a tradução e estudo das “Novelas Exemplares”, de Cervantes, e o romance “Quando os Lobos Uivam”, livro que a mesa censória dá instruções para que seja retirada a edição de milhares de exemplares. No ano seguinte, é-lhe instaurado um processo que habilita “o Tribunal Plenário a infligir uma pena até oito anos de prisão” (Alfredo Caldeira e Diana Adringa, 1994).

1960

É proposta a sua candidatura ao Prémio Nobel de Literatura, encabeçada pelo Professor Francisco Vieira de Almeida, da Faculdade de Letras de Lisboa, e apoiada por uma centena de signatários portugueses e estrangeiros.

O processo instaurado pela publicação do romance “Quando os Lobos Uivam” é declarado extinto. As fortes repercussões nacionais e estrangeiras fazem ceder o regime, que encontra na amnistia a oportunidade para fechar este combate.

1962

Nascimento da primeira neta, Mariana Ribeiro Machado, a quem dedica “O livro de Marianinha”, publicado postumamente, e com ilustrações de Maria Keil.

Começa a escrever as suas memórias, que serão publicadas incompletas, num único volume, em 1974, com o título “Um escritor confessa-se”.

1963

Publica “Tombo no Inferno” e “O Manto de Nossa Senhora”. A Sociedade Portuguesa de Escritores, então presidida por Ferreira de Castro, organiza uma sentida homenagem nacional, no âmbito do Cinquentenário da sua Vida Literária. As homenagens têm início na cidade do Porto, onde é recebido apoteoticamente. No regresso a Lisboa, adoece inesperadamente.

Morre, no Hospital da C.U.F., em Lisboa, a 27 de Maio.